segunda-feira, 12 de julho de 2010

Influenciado por Thomas Mann?

por Leandro Lança

Uma das frases que mais gosto é esta do famoso escritor Thomas Mann (1875-1955):

“Ninguém pode sofrer influência daquilo que lhe é estranho, que lhe é alheio”.

Quando a li pela primeira vez, fiquei tão feliz que a escrevi em algum lugar bem visível do meu quarto. Por algum motivo, ainda hoje sinto o que senti naquela época, um sentimento que a própria frase denuncia. A sensação de que aquilo que gostamos e nos impacta, de alguma maneira já estava em nós.

Bem no fundo, talvez em meu inconsciente, sempre desgostei e tive um pé atrás com afirmações do tipo: Cuidado para não ser influenciado por fulano. Beltrano foi influenciado por isto ou aquilo. A arte dele é influência total de sicrano,etc. Sempre me pareceu muito arbitrário e simplista esse poder devastador e irresistível atribuído ao ato de influenciar.

Dentro desta perspectiva de influência, de um lado se têm um sujeito ativo detentor de alguma habilidade ou conhecimento, e do outro, um sujeito totalmente passivo que, após o contato, passa a ser controlado e dominado por algo que antes lhe era completamente estranho. Essa passividade completa do individuo dominado ou influenciado é bem duvidosa, e em outras situações já foi brilhantemente desmentida. Mas talvez, o ponto que mais me incomoda na idéia de influência é que ela parece sugerir um sujeito de mente virgem, intocada, em branco. Quando a influência chega, só há espaço para aquela nova idéia, e é como se não houvesse nenhuma relação com outras idéias pré-existentes.

É neste ponto que Thomas Mann me parece revelador. A frase sugere que aquilo que nos é estranho de antemão, não é capaz de nos impactar de forma positiva. A reação natural ao ser humano em relação ao estranho é de repulsa, medo, estranheza, incompreensão. Ao passo que aquilo que nos cativa, de modo nenhum nos era estranho, já estava em nós, por isso a identificação. Estava em nós de algum modo que não conseguimos conceber muito bem na maioria das vezes, mas já estava, e foi apenas atirado a nós.

A verdade é que, neste processo, o acusado de “influenciador” não faz mais do que apertar o gatilho de uma arma que já se encontra em posse da vítima. Mais ainda, o gatilho é apertado em conjunto, em uma ação que só pode ser dialógica.

Será que fui “influenciado” por Thomas Mann?

Um comentário:

a lana disse...

thomas mann é um cara meio estranho, me cativou só pra lá da centésima página da montanha mágica. essa frase dele é fantástica, e a tua colocação sobre a influência como algo quase pejorativo completou geral. tuas reflexões me agradam.