quarta-feira, 28 de julho de 2010

A guerra de 1967 e as suas conseqüências


A crescente mancha da invasão judia sobre a Palestina



Comissão Justiça e Paz
CNIR/FNIRF Portugal,2002




Desde o fim da Guerra de Suez, em 1956, forças internacionais separavam os exércitos de Israel e do Egito e garantiam a liberdade de navegação no Golfo de Akabá. A 19 de Maio de 1967, o Secretário-Geral da ONU, U Thant, decidiu retirá-las, a pedido do Presidente do Egito Gamal Nasser. No dia 22 de Maio, Nasser fechou o Golfo de Akabá aos barcos israelitas. Israel ripostou no dia 5 de Junho com uma guerra-relâmpago durante a qual ocupou toda a Península do Sinai (egípcia) a Faixa de Gaza (sob administração militar egípcia) a Cisjordânia juntamente com Jerusalém Oriental (anexadas pela Jordânia em 1950) e o Planalto do Golã (sírio). Israel anexou a parte de Jerusalém recém-ocupada.

A chamada "Guerra dos Seis Dias" fez mais refugiados palestinos, da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, alguns dos quais o eram pela segunda vez. Calcula-se que o seu número foi superior a 50.000. A maioria foi para a Jordânia. Os restantes foram para o Egito, a Síria e outros países.

No dia 22 de Novembro de 1967, o Conselho de segurança da ONU aprovou a resolução 242que se propunha formular os termos para uma paz justa e duradoura no Próximo Oriente, baseada no respeito pelos princípios da Carta da ONU e na inadmissibilidade da aquisição de territórios pela guerra. A resolução ordena a retirada das forças armadas israelitas dos territórios ocupados no recente conflito9 em troca do reconhecimento pelos estados árabes do Estado de Israel dentro das linhas do armistício de 1949. Além disso, a resolução ressalta a necessidade de garantir a liberdade de navegação através das águas internacionais da área e de dar uma solução justa ao problema dos refugiados. Longe de se retirar dos territórios recentemente ocupados, como exigia a resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU, Israel começou logo a colonizá-los com cidadãos seus.




De 1967 a 1995


A história do conflito israelo-palestino desde 1967 é um rosário de planos de paz abortados, de esperanças frustradas e, como nos períodos anteriores, de violência, sangue, destruição e lágrimas. Referiremos só, rapidamente, os fatos, os acontecimentos e as datas que nos parecem mais marcantes e susceptíveis de ajudar a compreender a situação atual.

Começaremos por assinalar uma mudança nos papéis desempenhados pelos intervenientes no conflito. A anexação da Cisjordânia pela Jordânia em 1950 e a passagem da Faixa de Gaza para a tutela do Egito levaram a uma espécie de eclipse do povo palestino. A situação mudou a partir de 1967. O povo palestino voltou a tomar em mãos o seu destino. Por mais que se tenha esforçado por negar a sua existência, Israel teve finalmente que reconhecer o povo palestino não só como povo, mas também como "interlocutor/inimigo" inevitável. Encarnou as aspirações nacionais palestinas a Organização de Libertação da Palestina (OLP) uma coligação de partidos ou grupos que havia sido criada em Jerusalém, em 1964. Tal como foi formulada em 1968, a Carta da OLP, na linha do que sempre fora a política palestina, propunha-se como objetivo a criação do Estado da Palestina em todo o território nacional. Isso implicava o desaparecimento do Estado de Israel. A carta da OLP considerava os judeus que viviam na Palestina antes da "invasão sionista" como palestinos com pleno direito à cidadania, como os demais habitantes: muçulmanos, cristãos e de outras religiões ou etnias.

A chefia da OLP esteve na Jordânia até 1971. Derrotada no conflito armado que a opôs ao Governo Jordaniano (Fevereiro e Setembro de 1970) a OLP foi expulsa desse país em 1971, instalando-se então no Líbano. Na seqüência desses acontecimentos, alguns grupos palestinos, que se apelidaram "Setembro Negro", lançaram-se numa campanha de guerrilha internacional, cujas ações mais espetaculares foram os numerosos desvios de aviões comerciais e o atentado contra os atletas israelitas que participavam nos Jogos Olímpicos de Munique a 5 e 6 de Setembro de 1972.

No dia 6 de Outubro de 1973, o Egito e a Síria tentaram, em vão, reconquistar militarmente cada qual os territórios conquistados por Israel em 1967. No dia 22 do mesmo mês, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução 338 que reafirma a validade da Resolução 242 e apela para um cessar-fogo e para negociações com vistas a "instaurar uma paz justa e duradoura no Próximo Oriente". Os combates cessaram três dias mais tarde.

No mês seguinte, a Liga Árabe, reunida na Cimeira de Argel (26 a 28 de Novembro de 1973) declarou a OLP único representante do povo palestino. Desde 1970 a assembléia Geral da ONU afirmava regularmente o direito do povo palestino à auto-determinação. No dia 13 de Novembro de 1974, Yasser Arafat fez um discurso na assembléia Geral da ONU. Esta reconheceu aos palestinos o direito à independência e concedeu à OLP o estatuto de observador. A idéia da criação do Estado da Palestina só em parte do território nacional, já abordada em Junho de 1974, foi aceite no 13º Conselho Nacional Palestino, de 12 a 20 de Março de 1977.

No dia 17 de Setembro de 1978, foram assinados os acordos de Camp David entre o Egito, Israel e os EUA. Israel devolveu o Sinai ao Egito. Paralelamente à retirada do Sinai, que terminou a 25 de Abril de 1982, Israel intensificou a colonização da Cisjordânia e do Golã. Em conformidade com os acordos de Camp David, o Egito e Israel começaram, a 25 de Maio de 1979, negociações sobre um estatuto de autonomia para os palestinos da Cisjordânia e de Gaza, não escondendo Israel a intenção de anexar esses territórios no termo dos cinco anos previstos para a autonomia.

No dia 6 de Junho de 1982
, Israel invadiu o Líbano com a intenção declarada de expulsar de lá a OLP. Nos termos de um cessar-fogo negociado sob a égide dos EUA, as forças da OLP foram evacuadas do Líbano entre 10 e 13 de Setembro desse ano, mudando-se a sua chefia para Tunes. Foi então que se deram os massacres de Sabra e de Chatila. Entre os dias 15 e 16, o exército de Israel ocupou a parte ocidental de Beirute. No dia 16, forças libanesas (milícias cristãs aliadas de Israel) entraram nos campos de refugiados palestinos de Sabra e de Chatila e mataram homens, mulheres e crianças (Embora se utilizem da palavra "cristãs", essas organizações israelitas, "milícias cristãs", não têm o aval, nem a mais remota participação da Igreja Católica, ou das outras Igrejas Cristãs). Os soldados israelitas que cercavam os campos assistiram aos massacres sem intervir. Segundo a comissão de inquérito oficial israelita houve 800 mortos; segundo a OLP, terá havido 1500.

A dita comissão israelita concluiu que Ariel Sharon, então Ministro da Defesa, foi indiretamente responsável pelo sucedido.

No dia 9 de Dezembro de 1987 rebentou a primeira Intifada (insurreição) em Gaza e na Cisjordânia contra a ocupação.

No dia 31 de Julho de 1988, o rei Hussein da Jordânia anunciou oficialmente que rompia "os vínculos legais e administrativos" do seu país com a Cisjordânia, renunciando à pretensão de soberania sobre esse território que havia sido anexado pelo seu avô em 1950.

No 19º Conselho Nacional palestino, reunido em Argel, a OLP proclama o Estado da Palestina no dia 15 de Novembro de 1988, aceita as resoluções do Conselho de Segurança da ONU 181, 242 e 338 e reafirma a condenação do terrorismo.

Na seqüência da chamada "Guerra do Golfo", houve a Conferência Internacional de Madrid (inaugurada no dia 30 de Outubro de 1991) e as primeiras negociações bilaterais entre Israel e três dos seus vizinhos árabes (Jordânia, Síria e Líbano). Os palestinos ainda não tiveram a sua delegação própria. Fizeram parte da delegação jordaniana.

Negociações secretas entre israelitas e palestinos tidas em Oslo, no Inverno de 1992-1993, levaram finalmente ao reconhecimento entre Israel e a OLP a 9 de Setembro de 1993. A 13 do mesmo mês Yasser Arafat e Isaac Rabin assinaram em Washington a "Declaração de Princípios sobre as Disposições Interinas de 'Auto-Governo'". A dita declaração determinava a entrega de parte da Cisjordânia e da Faixa de Gaza aos palestinos, entrega essa concebida como a primeira etapa de um processo que deveria desembocar, no prazo de cinco anos, na solução do conflito que opõe os palestinos e os sionistas/israelitas desde há quase um século. De fato, Yasser Arafat entrou em Gaza no dia 1º de Julho de 1994 e o exército de Israel terminou a retirada das cidades palestinas, exceto de Hebron, em Dezembro de 1995. Os palestinos viram nesse fato o começo da realização do sonho de um estado palestino independente, embora só em cerca de um quinto da sua pátria e dividido em duas partes (Cisjordânia e Faixa de Gaza) separadas pelo território de Israel. Incluindo Jerusalém Oriental, a Cisjordânia tem uns 5.850 Km2. A Faixa de Gaza tem uns 365 km2.

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